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Sintetizador de voz, IA, robótica: saiba o que é tecnologia assistiva e como ela favorece a inclusão de pessoas com deficiência na educação

g1 conversou com pesquisadores de um centro de tecnologia de Campinas (SP), referência na área, e apresenta a definição do termo e exemplos desses recursos....

Sintetizador de voz, IA, robótica: saiba o que é tecnologia assistiva e como ela favorece a inclusão de pessoas com deficiência na educação
Sintetizador de voz, IA, robótica: saiba o que é tecnologia assistiva e como ela favorece a inclusão de pessoas com deficiência na educação (Foto: Reprodução)

g1 conversou com pesquisadores de um centro de tecnologia de Campinas (SP), referência na área, e apresenta a definição do termo e exemplos desses recursos. VÍDEO: Adolescente autista encontra 'sua voz' na tecnologia assistiva: 'Meu nome é Murilo' Murilo tem 14 anos, é um adolescente com síndrome de down e autismo que não fala, mas participa da rotina escolar com o uso de um tablet e aplicativo que sintetiza a voz a partir de comandos, recurso que favorece a interação com colegas e professores. E isso só é possível por meio da tecnologia assistiva. "Como ele não conseguia se comunicar, ele se desorganizava, entrava em crise. A partir desse sistema de comunicação, mudou o comportamento, ele se faz entender não só em casa, mas lá fora. Quero que ele tenha autonomia", diz Delma Medeiros, mãe do estudante. Mas o que é tecnologia assistiva e como ela favorece a inclusão de crianças com deficiência na educação? Para responder essas perguntas e mostrar exemplos de aplicações do recurso, o g1 conversou com pesquisadores de uma instituição de Campinas (SP) que é referência na área. 🔎 Tecnologia assistiva é o termo usado para todo e qualquer recurso, serviço, estratégia, prática ou produto que promova autonomia, independência e qualidade de vida de pessoas com deficiência. Ou seja, ela permite que barreiras para a inclusão sejam eliminadas. "Utilizando esses recursos de tecnologia assistiva, nós conseguimos trabalhar, estudar, pesquisar tal como as outras pessoas sem deficiência fazem no dia a dia", destaca a pesquisadora Fabiana Bonilha, que é cega e desenvolve um trabalho de transcrição de partituras musicais para braille. Na educação, o uso da tecnologia assistiva, seja ela uma pulseira de comunicação alternativa, como a desenvolvida pela professora Aline Begossi, ou o mouse ocular, equipamento que permite o controle e uso do computador pelo movimento dos olhos, oferece, segundo educadores e pesquisadores, condições para que o estudante com deficiência tenha as mesmas oportunidades de aprendizado. "A gente pensa numa perspectiva inclusiva em que os alunos possam estudar juntos e em igualdade de condições. Quando a gente desenvolve pesquisas relacionadas a tecnologia assistiva, pressupõe que em sala de aula os alunos com deficiência também tenham acesso ao mesmo conteúdo, ao mesmo conhecimento que os outros alunos", diz Fabiana. Nesta reportagem da série "Ser Acessível', coprodução do g1 e EPTV que aborda questões sobre a educação para crianças e adolescentes com deficiência, confira alguns dos trabalhos desenvolvidos no Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, em Campinas (SP). Nesta reportagem você vai ler ⬇️ Alta ou baixa tecnologia Centro de referência Música em braille e placa em 3D Robótica Inteligência Artificial Projeto-piloto Saiba o que é tecnologia assistiva e por que ela favorece a inclusão de PCDs na educação Alta ou baixa tecnologia Apesar de carregar o nome "tecnologia", a tecnologia assistiva não está atrelada apenas a dispositivos eletrônicos. Pode ser desde uma bengala ou prótese, ou qualquer instrumento adapato que sirva para autonomia da pessoa com deficiência. Segundo pesquisadores e educadores ouvidos pelo g1, tais ferramentas ou serviços podem ser classificados como de alta ou baixa tecnologia, referente ao nível sofisticação do recurso, e de baixo ou alto custo, relativo ao valor financeiro dele. Por exemplo: Você pode ter um recurso de baixa tecnologia e alto custo, como uma cadeira de rodas adaptada; Ou você pode ter um recurso de alta tecnologia e baixo custo, como alguns aplicativos gratuitos com inteligência artificial (IA); #paratodosverem: Ao lado da professora Daniela Berbel, Murilo toca no tablet, na figura que representa o seu nome Ricardo Custódio/EPTV É o uso da tecnologia assistiva que torna possível o mundo para pessoas com deficiência, define a especialista em educação especial, Tathiane Rubin Rodrigues Cuesta. "Se elas não têm acesso a ferramentas adequadas, é muito difícil sair do papel de espectador. A tecnologia assistiva traz essa potencialidade, de permitir que eles sejam protagonistas de suas histórias", defende Tathiane. LEIA TAMBÉM Ser Acessível: saiba quais são os direitos de pessoas com deficiência na educação e como exigi-los Ser Acessível: entenda como atitudes comuns no dia a dia são capacitistas e impedem a inclusão Ser Acessível: saiba o que explica aumento de casos de autismo e qual o impacto na educação #paratodosverem: Visto bem de perto, uma pulseira estreita com ilustrações dentro de quadradinhos. Acima de cada ilustração, uma palavra: da esquerda para direita, 1. um menino acena e a palavra OI, 2. um círculo com “Check” - SIM; 3. A letra X vermelha - NÃO; um vaso sanitário – BANHEIRO; uma carinha com uma maçã, dentro de um balão de pensamento – FOME; outra carinha com um copo com líquido azul – SEDE; uma criança entre brinquedos – BRINCAR; uma carinha com olhos revirados e a boca arqueada para baixo – DOR Ricardo Custódio/EPTV Centro de referência Em Campinas (SP), o Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer já coordenou uma rede de núcleos de tecnologia assistiva pelo Brasil por meio do Centro Nacional de Referência em Tecnologia Assistiva (CNRTA). A iniciativa criada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) em 2012 foi descontinuada pelo governo federal, mas apesar de não ter mais o caráter centralizador da política sobre o tema, o CTI Renato Archer segue, dentro de suas áreas de atuação, desenvolvendo e aprimorando tecnologia assistiva. O CTI atua em áreas como microeletrônica, software, robótica, inteligência artificial (IA) e tecnologias de impressão 3D. 📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp "'O CTI Renato Archer, unidade vinculada do MCTI, atua na divulgação científica para a área de Tecnologia Assistiva e também para a conscientização da sociedade por meio de sua Divisão de Tecnologias para Produção e Saúde, com ações coordenadas pela pesquisadora Fabiana Bonilha", destaca, em nota, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Segundo a pasta, o CTI também atua no apoio ao desenvolvimento de pesquisas na área de tecnologia assistiva por meio de cooperações com grupos de todo o Brasil, como a Escola de Engenharia de São Carlos (EESC), da USP, e a Universidade Federal de Santa Maria (USM), entre outras. Questionado sobre os investimentos na área, o governo federal informou que possui uma Coordenação-Geral de Tecnologia Assistiva (CGTA) responsável por "formular as políticas públicas e a definição de estratégias para implementação de programas e ações para o estímulo a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação em tecnologia assistiva'. "Entre as principais ações estão o Sistema Nacional de Laboratórios de Tecnologia Assistiva (SisAssistiva-MCTI), que ocorre no âmbito do Plano Nacional de Tecnologia Assistiva com recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT) de R$ 72, 5 milhões, e o Plano Novo Viver Sem Limites, que se desenvolve na Central Nacional de Interpretação da Língua Brasileira de Sinais (CONECTE LIBRAS BRASIL) e em Centros de Acesso, Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Assistiva. O último ainda está em curso e também é atendida pelo FNDCT", destacou o MCTI. Pesquisadora cega transcreve partituras de obras clássicas para musicografia Braille Música em braille e placa em 3D A pesquisadora Fabiana Bonilha, que é cega, conta que enfrentou diversas barreiras no período de alfabetização e valoriza o avanço na área de tecnologia assistiva, que permite aos jovens com deficiência mais igualdade de oportunidades nas escolas e na vida. "Tiive minha formação escolar nas décadas de 80, 90, época que não existiam todos esses recursos. A medida que temos esse avanço, as crianças têm mais chances de ter uma formação mais igualitária, com recursos que a gente não contava antigamente", valoriza. 🎼 Fabiana é servidora pública no CTI Renato Archer e atua na área de música para cegos, com pesquisas na transcrição de partituras para o braille - sistema de escrita e leitura tátil baseado em pontos em relevo. #paratodosverem: Detalhe de mãos delicadas de pele clara sobre o teclado de um piano Ricardo Custódio/EPTV Seu objetivo é ampliar a oferta da musicografia braille para estudantes de música e pessoas cegas que tocam instrumentos, e ela tem pesquisado tecnologias que permitam a transcrição de partituras para o Braille de forma otimizada, cada vez mais rápido. Fabiana também tem trabalhado para ampliar o acervo de partituras em Braille, transcrevendo obras de compositores brasileiros, como Heitor Villa-Lobos e Camargo Guarnieri, que nunca tinham sido feitas antes. "Os estudantes cegos quando ingressam em conservatórios ou faculdades de música precisam cumprir um determinado programa, e muitas vezes não têm o material disponível para estudar. A medida que avançamos no conhecimento e na pesquisa sobre a transcrição de material em Braille, essas pessoas podem ter acesso ao mesmo material que os outros alunos", diz. #paratodosverem: De frente para nós, ao lado de um notebook com a partitura, Fabiana Bonilha, uma mulher de pele clara num leve sorriso com a boca entreaberta. Ela é cega, usa uma malha canelada bege claro mesclada de traços cinza Ricardo Custódio/EPTV A pesquisadora também orienta jovens em iniciação científica, e um desses trabalhos envolve o desenvolvimento de um software que converte um texto escrito em um modelo para impressões de placas em 3D em Braille. Segundo Fabiana, essas placas podem ter diferentes aplicações, incluindo a educação, pois são mais duráveis que as impressões em papel, e possuem uma legibilidade melhor. Estudante de engenharia biomédica na PUC-Campinas, Letícia Costa Ishiuchi, de 22 anos, trabalha há dois anos sob orientação de Fabiana e foi ela que desenvolveu o código que permite essa transcrição e a criação do arquivo que pode ser impresso em qualquer impressora 3D. Robótica Entre as áreas de pesquisa e desenvolvimento no CTI Renato Archer está a robótica, e um projeto feito em parceria com o Instituto de Psiquiatria da USP utiliza o aspecto lúdico do robô para interações com crianças. Pesquisador em robótica, Helio Azevedo crê no potencial da aplicação do modelo também em escolas, seja por crianças que tenham deficiência ou não. 🤖 O robô não é autônomo, e funciona como uma espécie de "marionete". Ele é controlado em outra sala, e favorece o estabelecimento de um canal de comunicação mais transparente com a criança. #paratodosverem: Hélio Azevedo está sentado à mesa com um notebook. É um senhor de pele clara e cabelos brancos. Sobre a mesa, um robô articulado em pé de aproximadamente 70 cm. É branco com os olhos arregalados. Tem um tipo de boné e ombreiras vermelhas e no peito, um arco voltado para baixo, também vermelho. Os sapato são brancos com detalhes vermelhos na ponta da frente Ricardo Custódio/EPTV "Através de um aspecto lúdico, a criança cria um relacionamento com o robô e consegue conversar, interagir de uma forma que nem sempre é alcançada na figura do psicólogo", destaca Hélio. O software desenvolvido para o projeto, ressalta o pesquisador, é de uso livre, e qualquer instituição que queira pode baixar o programa e utilizá-lo em outro ambiente ou com outro robô. Inteligência Artificial Uma das áreas de atuação do CTI Renato Archer envolve a Inteligência Artifical (IA), e uma pesquisa liderada por Filipe Loyola, em parceria com a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), vai utilizar a tecnologia para analisar e extrair, a partir de um banco de dados, informações detalhadas sobre estudantes com deficiência na rede pública de São Paulo. 💻 O objetivo, conta o pesquisador, é mapear a incidência de diferentes tipos de deficiência na rede e as necessidades específicas de cada aluno, o que vai permitir o desenvolvimento de novos projetos de tecnologia assistiva. "Se a gente pegar só o Transtorno do Espectro Autista, que tem uma incidência muito grande e é um espectro vasto. Cada pessoa é unica, e a inteligência artificial pode ajudar a entender essa customização que a tecnologia precisa ter para atender cada ser humano", destaca Filipe. #paratodosverem: Filipe Loyola, visto de frente, do peito para cima ao lado de uma tela com gráficos. Ele é branco de cabelos e barba pretos Ricardo Custódio/EPTV Além disso, a ideia é que a IA possa ser uma ferramenta de suporte aos professores da rede pública, a partir de um chat em que seja possível obter informações desse banco de dados, de como eles podem auxiliar os alunos com deficiência. "O Brasil carece de bancos de dados estruturados, são diferentes questões, diferentes enias, doenças, condições, e esse banco de dados vai reunir informações de saúde, tipos de deficiência e vamos fazer essa ponte com os recursos de tecnologia para ajudar essas pessoas", diz Filipe. Projeto-piloto O pesquisador Serguei Balachov, russo que mora no Brasil há três décadas e é chefe da Divisão de Nano, Microssistemas e Materiais (DINAM) do CTI Renato Archer, desenvolveu uma interface que permite o uso de computadores e tablets por pessoas com mobilidade reduzida. O comando pode ser acionado por diferente sensores, tanto por botões (acionadores) como por um laringofone, equipamento que capta sons emitidos na garganta - uma criança que não fala, mas tem controle da emissão de sons, poderia acessar o computador de forma autônoma, por exemplo. A possibilidade de uso com crianças com deficiências é estudado pela professora Tathiane Rubin Rodrigues Cuesta, responsável pela Sala de Recursos Multifuncionais (SRM) na escola municipal CEI João Vialta. #paratodosverem: Colmeia com três fotografias. Foto 1. À esquerda. Um tablet onde está escrito acima: “Preferências do cursor”. Logo abaixo, há uma dezena de desenhos de botões e de mãos com os indicadores sobre diferentes botões. Na frente do tablet, uma placa amarela circular, que é um botão acionador com um sensor toutch. Ao lado, desse botão, há o laringofone, acionado quando colocado na laringe / pescoço. Ambos estão coligados a um transmissor. Foto 2. À direita, no alto. O mesmo tablet, com a tela de descanso com vários ícones, como por exemplo: Play Store, Drive, Fotos, Gmail, Câmera, entre outros. Foto 3. Abaixo, detalhe de um pescoço com o laringofone Tathiane Rubin Rodrigues Cuesta ✍️ O projeto-piloto está em fase de formalização entre o CTI e a Secretaria de Educação de Campinas, e a ideia da professora é que o sistema seja uma alternativa para crianças que não se adaptaram aos recursos de tecnologia assistiva existentes no mercado. Ser Acessível: o que são Salas de Recursos Multifuncionais e como elas favorecem inclusão na educação VÍDEOS: Crianças que não falam 'descobrem a voz' usando os dedos e o movimento dos olhos Ser Acessível: TEA, PCD, SRM, criança não oralizada, tecnologia assistiva... glossário explica termos e siglas da educação especial Balachov conta que a criação do sistema, há sete anos, surgiu de uma demanda de terapeutas para permitir a conexão com o mundo digital por pessoas que não conseguem utilizar o computador da forma convencional, ou mesmo com outros recursos, por diferentes limitações e necessidades. Agora, o pesquisador espera que a possibilidade de aplicação em campo, com o descobrimento de necessidades reais de crianças com deficiência, seja possível entender novos requisitos, além da incorporação de novas tecnologias. "É igual ao celular. O modelo de cinco anos atrás funciona, mas há mais recursos, há um processo de mudança de um para o outro. Isso acontece aqui também. Os tablets mudaram, os sensores, apareceu a înteligência artificial", explica Balachov. #paratodosverem: Numa sala do CTI Renato Archer, o pesquisador Serguei Balachov está sentado à mesa, que tem dois monitores. Ele tem a pele clara e olhos azuis. Os cabelos são brancos e o bigode grisalho. Usa uma camisa estampada em tons de cinza Fernando Evans/g1 Ser Acessível Entenda barreiras que impedem inclusão escolar e veja famílias que enfrentaram a exclusão Ser acessível: crianças que não falam 'descobrem a voz' com dedos e movimento dos olhos Galerias Relacionadas VÍDEOS: saiba tudo sobre Campinas e Região Veja mais notícias da região no g1 Campinas

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